terça-feira, 23 de junho de 2009

O tal blog da Petrobras: transparência organizacional e jornalismo frente a frente


Política da casa de vidro... Política de portas abertas... Seja qual for a escola teórica a que nos apeguemos, a questão da transparência organizacional é tema recorrente nas Relações Públicas. Mais do que recorrente, é extremamente atual, ainda mais em tempos de web 2.0.

E, desde o último dia 02 de junho, a Petrobras passou a figurar em primeiro plano nas discussões desta seara. Nesta data, ela lançou seu blog, o “Fatos e Dados”. Nele, como a própria Petrobrás afirma, a intenção é apresentar “fatos e dados recentes da Companhia e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).”

Sergio Gabrielli: vocês querem transparência?

Sensacional do ponto de vista da transparência, certo? Certo. Porém, nos atermos apenas ao fato de esta ação ser um amplo e bem articulado passo no sentido da transparência organizacional não contempla plenamente o assunto. Grande parte da repercussão inicial do blog da estatal diz respeito ao fato de, nele, a empresa publicar perguntas e pedidos de informação de jornalistas, o que, como bem define Rogério Christofoletti em seu blog Monitorando, “provoca uma situação nova nas relações entre fontes e jornalistas no país, já que pode prejudicar investigações sigilosas, alertar concorrentes sobre matérias em andamento ou mesmo evidenciar que os veículos de comunicação distorcem ou corrompem algumas informações ao divulgá-las.”

As reações à isto, como não poderiam deixar de ser, foram imediatas. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em nota oficial, disse:
“Ao agir dessa forma, a Petrobras inibe os meios de comunicação e os jornalistas que precisam verificar com a empresa informações de eventuais reportagens que serão veiculadas. A estatal deve rever essa prática para preservar um relacionamento profissional com os meios de comunicação e jornalistas, que têm o direito de manter suas apurações em sigilo antes da veiculação do produto final.”

Tendo em vista a amplitude da discussão, é fundamental, para desenvolvermos um raciocínio, que tenhamos em vista o seguinte: as possibilidades crescentes de interação e de relacionamento entre emissor e receptor que a tal web 2.0 viabiliza criam um campo vasto e rico a ser explorado pelas organizações (e o blog da Petrobras exemplifica muito bem isso). Dada essa realidade – que, convenhamos, não é mais novidade para ninguém –, é compulsório que ocorram mudanças no fluxo de informação. E o jornalismo contemporâneo tem (ou terá) que aprender a conviver e lidar com isso.

É evidente que, ao manter um canal direto com seu público, a Petrobras ganha pontos (leia-se moral) com este. E isso, em tempos de crise (não esqueçamos que a Petrobras está prestes a enfrentar uma CPI – que deve ter início no dia 30 de junho) permite que menos ruídos ocorram. Vejam bem, não estou dizendo que a cobertura jornalística promove ruídos na informação, apenas estou pontuando que uma ferramenta como o blog dispensa a mediação das mídias tradicionais, o que encurta o fluxo da informação. Além disso, o “Fatos e Dados” possibilita um diálogo entre a estatal e a sociedade, o que, inegavelmente, não está ao alcance das mídias convencionais.

Não ousarei aqui promover uma conclusão, seja ela qual for. Mas casos como o blog da Petrobras deixam mais claro que o jornalismo, para sobreviver, precisa extrapolar as convenções até então vigentes e se renovar – muito embora a questão da quebra do sigilo seja delicada e mereça a devida atenção, posto que põe em xeque uma premissa jornalística. E, não obstante a isso, também evidencia o ganho de importância de um pensamento holístico de Relações Públicas em prol dos interesses de uma organização.

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